Milagre o Testemunho da Verdade

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Santo Tomás de Aquino, Doctor Angelicus



Santo Tomás de Aquino está para a teologia, assim como Johann Sebastian Bach está para a música, e se como disse Ludwig Van Beethoven que um herege converte-se ouvindo Bach, o que dizer de um herege ao ler Santo Tomás de Aquino? Em todos os tempos, dificilmente o mundo conheceu uma mente como a de santo Tomás de Aquino.  Sob a imagem de um homem gordo, alto, pacatíssimo e silencioso, residia uma alma magnífica; uma mente que viria a assustar o mundo do pensamento – e da igreja – com a sua aplicação da filosofia de Aristóteles à teologia, o que G.K Chesterton chama de “o batismo de Aristóteles”. Santo Tomás foi sempre proposto pela Igreja como mestre de pensamento e modelo do modo reto de fazer teologia . Depois de Santo Agostinho, este também um gigante do pensamento teológico, Santo Tomás é o Santo mais citado no catecismo da Igreja católica; é citado por sessenta e uma vezes.
Santo Tomás surgiu no mundo em 1225, no seio da família dos Condes de Aquino, família feudal de origem germânica e normanda, no reino de Nápoles. Ainda jovem, foi encaminhado na vida monástica, sendo enviado ao mosteiro de Monte cassino, onde receberia as primeiras instruções sobre teologia. Porém, foi em Nápoles, onde havia uma universidade fundada por Frederico II, Imperador excomungado, que aos 14 anos Santo Tomás teve seu primeiro contato com a filosofia aristotélica, filosofia esta que tornar-se-ia para o santo a filosofia por excelência.
O Doutor Angélico, como ficou posteriormente Santo Tomás, em determinado momento, sente-se de alguma forma atraído pela ordem dos Dominicanos, ordem fundada por São Domingos de Gusmão, e decide separar-se da família, pois esta o impedia de aderir ao hábito dominicano. O que o atraía nos Dominicanos era a efervescência intelectual e apostólica. Conta-se que ao dirigir-se para Paris, foi sequestrado pelos irmãos e trancafiado numa torre de castelo dos Aquino, onde seus irmãos, com o intuito de ferir-lhe o celibato, fizeram entrar na masmorra uma mulher, meretriz da época, para seduzir o Santo. Santo Tomás tomou em suas mãos um pedaço de lenha que fumegava na lareira e como quem tenta espantar lobos, expulsou a meretriz do aposento, e ao fechar a porta, traçou com a lenha fumegante o sinal da cruz na porta fechada.
Em 1245, dirige-se à paris, onde coloca-se sob a tutela intelectual de Santo Alberto Magno. À época, reinava o Jovem São Luis e estava em término a construção da catedral de Notre Dame, a qual que se tornaria a “Nova Atenas”; território dominado pelo intelecto agudíssimo dos estudantes de Paris.
G.K Chesterton escreveu uma excelsa obra biográfica de Santo Tomás de Aquino, considerado pelos grandes biógrafos de Santo Tomás, como a maior e mais eloquente obra sobre o Doctor Angelicus. Nesta obra, Chesterton relata a grande amizade que brotou em ambos os corações – de Santo Tomás de Santo Alberto Magno – pois Alberto Magno havia percebido a aguda inteligência de Santo Tomás e ousou até, quando todos o alcunhavam de “Boi mudo”, por ser Tomás extremamente silencioso, a dizer que “este boi há de mugir tão alto que assustará o mundo!” Foi o próprio Alberto magno, o conferencista e mestre erudito que começou a suspeitar do vigor pela verdade em Santo Tomás. Ele encarregava Tomás de pequenas tarefas, de anotação ou exposição depois de convencê-lo a deixar de lado o embaraço e participar de ao menos um debate. Santo Alberto havido sido convidado pelos Superiores da Ordem para fundar uma Casa de estudos teológicos, e aceitando de pronto, expôs sua única e impávida condição; levar consigo o “Boi Mudo”. Então, Tomás entrou em contato com todas as obras de Aristóteles e dos seus comentadores árabes, que Alberto ilustrava e explicava.
Santo Tomás pôs-se a estudar profundamente as obras de Aristóteles, e as traduções de seus comentadores, distinguindo nelas aquilo que era válido daquilo que era duvidoso, ou que devia ser totalmente rejeitado, demonstrando a consonância com os dados da Revelação cristã e utilizando ampla e perspicazmente o pensamento aristotélico na exposição dos escritos teológicos que ele mesmo compôs. Em última análise, Tomás de Aquino mostrou que entre fé cristã e razão subsiste uma harmonia natural. E foi esta a grande obra de Tomás, que naquele momento de desencontro entre duas culturas – naquele momento em que parecia que a fé devia render-se perante a razão – demonstrou que elas caminham a par e passo, que quanto parecia ser razão não compatível com a fé não era razão; e aquilo que parecia ser fé não era tal, enquanto se opunha à verdadeira racionalidade; deste modo, ele criou uma nova síntese, que veio a formar a cultura dos séculos seguintes.
Santo Tomás iniciou sua produção literária, quando em virtude de suas explícitas capacidades intelectuais, foi convidado a retornar á Paris, para lecionar Teologia na Cátedra Dominicana, onde floresceram de sua mente comentários à Sagrada Escritura, comentários aos escritos de Aristóteles, obras sistemáticas imponentes, entre as quais sobressai a Summa Theologiae, tratados e discursos sobre vários argumentos.
Entre 1261 e 1265, quando esteve em Orvieto, por ordem do papa Urbano IV (que nutria grande estima pelo Santo), Santo Tomás compôs hinos para festa de Corpus Christi, em honra à Sagrada Eucaristia, hinos estes que são verdadeiras obras primas cujas belezas em forma de melodias musicais e letras de refinado teor impulsionam a alma em direção ao Céu ; exemplo destes hinos é o hino Panis Angelicus, que tornou-se apresentação obrigatória em grandes eventos de música erudita. (veja o Vídeo).
Outra obra prima voltada para a adoração Eucarística é o hino Adoro te Devote, composto também a pedido do papa Urbano IV, após a promulgação da bula “Transiturus”, que institui a festa de Corpus Christi. (Veja o vídeo)
Os pensamentos de Santo Tomás foram tão marcantes para a Igreja, que fala-se que no Concílio Tridentino, nas sessões conciliares, ao lado da Sagrada Escritura encontrava-se aberta e amplamente consultada a Suma Teológica, obra que o consagrou como “O Teólogo por excelência”.
Após algumas décadas em desuso, o Papa leão XIII, através da encíclica Aeterni patris suscitou a necessidade de voltar-se à Santo Tomás, para opor-se aos erros de uma época dominada por erros doutrinais e filosóficos, o que ficou conhecido com Tomismo Leonino.
Embora fosse possuidor de uma capacidade intelectual singular e fosse absurdamente culto, Santo Tomás tinha em iguais de grandezas uma humildade e simplicidade evangélicas. O papa Bento XVI relembra essa qualidade em seu discurso na Assembléia geral em 02/06/2010: “os últimos meses da vida terrena de Tomás permanecem circundados por uma atmosfera particular, diria misteriosa. Em Dezembro de 1273 ele chamou o seu amigo e secretário Reginaldo para lhe comunicar a decisão de interromper todos os trabalhos porque, durante a celebração da Missa, tinha compreendido, a seguir a uma revelação sobrenatural, que tudo aquilo que tinha escrito até então era apenas "um monte de palha". É um episódio misterioso, que nos ajuda a compreender não só a humildade pessoal de Tomás, mas também o facto de que tudo o que conseguimos pensar e dizer sobre a fé, por mais elevado e puro que seja, é infinitamente ultrapassado pela grandeza e pela beleza de Deus, que nos será revelada plenamente no Paraíso.”
Santo Tomás de Aquino Morreu enquanto se encaminhava para o Concílio ecumênico de Lião em 7 de março, em Fossanova, concílio esse convocado pelo Papa Gregório X. Deixou a terra ainda em ebulição reflexiva e contemplativa, e foi canonizado pelo Papa João XXII, e hoje é um dos Santos mais venerados da Igreja e inspiração salutar para todos os teólogos e amantes dos livros.
Santo Tomás de Aquino, rogai por nós!

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